Aula de Sobrevivência de Herbologia!

Chego já caindo na lama, com sujeira fazendo festa no meu cabelo.

- Arrrgh, pai! - digo nervosa. - Você me deve um shampoo novo!

Me levanto, tirando o excesso de lama da roupa.

"Pelo menos rejuvenesce", penso.

Percebo que a neblina fica mais densa.

Mas fazer o quê? É Floresta da Névoa aqui, não Floresta da Visão Clara.

Ouço risadas ecoando pelo espaço.

Abro minha bolsa e tiro a faca de prata. Aperto a fivela da mochila e sigo, guiada pelo som das risadas que para mim NÃO TEM GRAÇA NENHUMA.

Continuo andando, bufando por dentro.

"Em uma aula de Herbologia, sempre há como piorar", penso em uma das regras básicas de convivência com meu papai.

Fico indignada ao ser ferida no estômago e no rosto.

Penso com carinho em meu pai, reavendo meu conceito sobre maldições da morte.

Sento ao chão, pego meu cantil, giro sua tampa e aponto na abertura dele minha varinha, dizendo com vontade:
- Aguamenti.

Vejo um fio de água sair da ponta da minha varinha e espero o cantil encher.

Fecho o recipiente e bebo um pouco, esperando que meu estômago pare de doer.

Pego minha faca e corto a barra da minha capa.

Embebedo-a com um pouco de água.

Seguro minha faca e miro nela minha varinha, mantendo uma distância segura. Faço um movimento contínuo para cima e para baixo e digo:
- Incendio.

Espero a faca aquecer, antes de ficar vermelha ou queimar minha mão e a enrolo no pano úmido.

Aperto até o tecido ficar quente.

Passo no meu rosto para limpar o sangue.

Coloco-o depois apoiado sobre minha barriga, para relaxar a musculatura.

Me sentindo um pouco melhor e com a faca já fria, guardo o pano em minha bolsa.

Aperto minha bochecha, para conter o sangue.

Aponto minha varinha para meu rosto, imaginando uma bandagem surgindo e cobrindo apenas a parte do machucado e digo:
- Férula.

Ao sentir a bandagem cobrir o machucado que ardia, faço um movimento de corte, cessando o feitiço.

Me levanto, notando que as malditas risadas voltam a me perturbar. A neblina fica menos densa também.

Ouço um ecoar dizendo "Corra para o Castelo...".

Era uma voz familiar e amável, embora desesperada.

- Desculpas, quem quer que seja. Mas é minha missão e honra continuar.

Sigo tentando descobrir de onde vêm as risadas ironicamente malignas.

Me encontro então em um jardim de belíssimas flores vermelhas, cujas pétalas se movimentam magníficamente.
Sinto algo estranho naquele lugar. Parecia ser marcado por algo, ou alguém.
Vejo que as pétalas se movem mais e noto o vento soprando.
Vejo uma mulher se materializar das partes das flores e me assusto, pois nunca imaginaria alguma situação assim.
Sinto uma estranha conexão com a donzela.
Ela movimenta o cenário e cria uma espécie de cadeira, acenando como se indicasse o que eu deveria fazer.
Aperto minha varinha e faca, embora não quisesse utilizá-las.
Ela começa a me indagar sobre minha origem, algo que nem sei direito.
Penso comigo mesma se devo explicações. Mas como está ficando um pouco tarde, resolvo conversar.
Algumas palavras em troca de, quem sabe, respostas e abrigo.
- Pois não, Senhora - me ponho a dizer. - Sou Emily Emrys Fëanturi Eldor Baudelaire, aluna do quinto ano escolar de um castelo mais ou menos... - aponto para o local aproximado da Escola - ali.
As risadas voltam a ecoar, e sinto arrepios e enjoo.
Mas, retomo a falar.
- Sou a primeira e legítima filha de Levigarian Baudelaire, mochileiro dessa floresta e de tantas outras.
Olho para ela, esperando que dê segmento a conversa.

Vejo que a donzela se irrita com a menção de meu sobrenome.


Olho para ela com uma expressão de indignação.
- A Senhorita vai me perdoar, mas não irei tolerar este tipo de afirmação sobre nenhum dos dois. Mas parabéns pela conduta. A Senhora reclama
daqueles que possuem meu sangue, mas na hora de demonstrar diplomacia, ataca com arrogância àqueles que nada de malícia pretendiam fazer.

Vejo que me alterei e abaixo o tom.
- Não estou aqui atrás de nenhuma de suas flores, e até penso que elas ficam maravilhosas na natureza e somente nela. Não era isso minha ambição, nunca foi.
- Vejo que a dissolução de meu sangue me classifica como supostamente inferior à sua. Mas por que, se somos lados da mesma folha, filhas de um mesmo mundo?

Olho com uma feição de paz e segurança que eu desejava ter para a dríade.
- A Senhora não acha que nossa terra já está repartida demais para nos tratarmos assim? Qual é, temos quase a mesma composição sangínea correndo em nossas veias e artérias.
- Mas se isso não for suficiente, então faça pelas suas irmãs puras. Se eu morrer aqui, isso trará mais desgraça a sua árvore e a Floresta inteira, não acha?
- Ou será que a bondade e senso de igualdade de Fyora não é compartilhada pelas suas irmãs?
- Francamente, prefiro ter meu sangue mestiço ao me cegar pelo ódio dos que não são culpados pelos atos de seus ancestrais.

Noto que os olhos da dríade ficam vermelhos. Sinto o solo se deslocar e me prender, me puxando para baixo.

Então, começo a pensar em tudo.
Minha mãe.
Meu pai.
O carvalho que sucumbiu para nos salvar.
Meus irmãos.
Abeto.

Tiro forças do solo, pois sinto que a Natureza me renova.
Me sacio com tudo de positivo que meus pensamentos poderiam me dar, e com as mãos e pés firmes no solo, digo:
- PARE AGORA E ME DEIXE SEGUIR MEU CAMINHO!